Este artigo pretende fazer
uma análise histórica e geográfica da Península Itálica e do Império Romano
antes do nascimento e expansão do Cristianismo, numa tentativa de compreender
em aspectos gerais como estava formada esta estrutura social, politica e religiosa.
Para isso serão utilizados alguns mapas e algumas obras didáticas para
facilitar o entendimento deste assunto.
Para a introdução das
discussões é preciso apontar logo de início como está estruturado o trabalho e
assim lançar luz as abordagens.
Este artigo está dividido em
três partes: a primeira será feito um breve histórico da Península Itálica
antes dos sistemas: monárquico, republicano, e imperial, os povos que habitavam
a região e como se tornou uma monarquia. Na segunda parte trataremos sobre a
Monarquia na Península Itálica, como foi governada e como ela veio a ser
república. Na terceira será feita uma abordagem de aspectos gerais do período
da República Romana, onde serão abordados temas como a expansão do território,
as guerras por terras, a ascensão dos generais, entre outras temáticas. Por fim
na quarta e última parte será feita uma abordagem do Império Romano pré-cristianismo.
Antes de seus sistemas de
governos a Península Itálica era habitada por vários povos como latinos,
etruscos, sabinos vizinhos mais próximos de Roma; hérnicos, équos, volscos,
samnitas, lucanos que controlavam uma parte grande nas regiões
centro-meridional; e os umbros e campanos também no centro; no sul havia cidades gregas como
Tarento e Crotona; e a oeste da região da Sicília era dominada pelos cartagineses; ao norte haviam os vênetos, os gauleses e os
lígures. Cada povo tinha uma identidade étnica e tinham as características
socioculturais distintas (SCOPACASA, 2016).
As evidências históricas
afirmam que Roma surge a partir da unificação de várias aldeias latinas através
da ação dos etruscos no século VII a. C., deixa de ser um povoado de pastores,
agricultores e comerciantes para se transformar em uma cidade fortificada e com
relações comerciais estruturadas com outras regiões. Dos povos etruscos
aprenderam a pavimentar estradas, drenar pântanos, construir pontes e redes de
esgoto, e também vários elementos da religião etrusca na sociedade romana em
processo de formação, tais como a prática da adivinhação.
Após a unificação de Roma começa o
sistema monárquico onde foi governada por sete monarcas, sendo quatro deles de
origem latina e três etrusca. Em 509 a. C. durante o governo do rei etrusco
Tarquínio II, os patrícios que eram os detentores de terras e de maior poder
expulsaram os etruscos do Lácio, região onde Roma se localizava, e conquistaram
uma grande parcela dos seus domínios, prevalecendo então à dominação latina
sobre quase toda península que foi expulsando pouco a pouco os outros povos.
(AZEVEDO; SERIACOPI, 2010).
O sistema monárquico romano se inicia
com o fim da dinastia etrusca, não que isso tenha ocorrido muito rapidamente,
foi um processo longo que foi se estruturando partir das mudanças políticas,
sociais e religiosas. No período da república a aristocracia patrícia colocava
no poder os líderes eleitos (magistrados: cônsul e pretor) pelo prazo de um ano
e com autoridade plena sobre os assuntos civis, militares e religiosos. Os
magistrados governavam em conjunto com o Senado (composto por patrícios e
cidadãos da elite econômica) e com a Assembleia Popular (plebeus — os pobres).
Os plebeus eram cidadãos livres que não faziam parte da elite econômica e
política de Roma, mas com a política de expansão territorial que se inicia
neste período esta classe se torna mais necessária, pois, eram importantes na
formação de exércitos sendo que muitos destes que entravam no exército conseguiam
notoriedade na participação de vitórias militares e se tornavam muitas vezes
proprietários de terras. Não demorou muito para que os plebeus percebessem que os interesses patrícios
eram diferentes dos deles, os patrícios por sua vez não deixavam os seus benefícios e os plebeus reivindicavam cada vez mais por espaço na política. (PETTA; OJEDA, 1999).
Roma avança cada vez mais em toda a península
e as demais cidades latinas foram anexadas ao território, tendo hegemonia
militar e comercial e logo que eram submetidas eram obrigadas a colocar
o seu comércio a disposição dos romanos, a partir desta expansão houve um dos
mais conhecidos embates entre Roma e Cartago (as Guerras Púnicas), região que
hoje é o Norte da África. Neste período a cidade de Cartago era uma potência econômica dos séculos
IV e III a. C., e a guerra foi, sobretudo pela disputa territorial e pelas
disputas pelo comércio sendo que no final das contas depois de três guerras, Cartago
saiu destruída e os romanos passam a controlar todo o Mar Mediterrâneo, a
partir daí dominam toda a região norte da África, da Gália (hoje território
francês), a Península Ibérica (hoje Portugal e Espanha) e as regiões da Grécia. Nas direções rumo ao
oriente ocuparam as terras que foram conquistadas pelos macedônicos, que iam da
Península Balcânica até o Rio Indo, na Índia. Os territórios conquistados
alguns possuíam autonomia política e alguns tidos como bárbaros eram submetidos
militarmente, economicamente e politicamente, e todas as regiões anexadas eram
considerados províncias e tinham como regime a lei militar e todas pagavam
tributos a Roma. (PETTA; OJEDA, 1999).
Com tamanha expansão e com o
fortalecimento do poder dos generais, e com a ascensão de plebeus o sistema de
governo republicano não estava dando mais conta das mudanças significativas que
já estava formando os seus contornos e se estruturando para outro sistema de governo.
A plebe se via cada vez mais mergulhada
em um sistema desigual onde os patrícios detinham grandes porcentagens de
terras dadas pelo estado, Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe e os
camponeses viam nele uma esperança, e logo ele começou a discursar em favor dos
plebeus, por conta disso foi assassinado. O substituto de Tibério Graco foi o seu irmão Caio
Graco, este conseguiu a aprovação de algumas leis, mas como representava uma
ameaça assim como seu irmão foi assassinado.
Os generais nas vitórias expansionistas
tomavam as riquezas dos povos e as distribuíam entre os oficiais e os soldados.
Os generais se tornam ambiciosos e muito populares, pois, eram importantes para
manter o controle das regiões dominadas e o estado dependia cada vez mais deles
e muitos se destacam. (SCHMIDT, 2005).
A partir das lutas em guerras civis e
tentativas de controle das revoltes ocorridas dentro dos limites do território
romano os generais se destacam pela atuação nestes conflitos, e delas há a
união dos generais Pompeu, Crasso e Júlio César, que formaram em 60 a. C. o
primeiro Triunvirato que não durou muito acabando por conta das disputas entre
César e Pompeu, ocasionando em uma nova guerra civil no qual Júlio César
amparado por um exército bastante treinado e fiel derrota os seus adversários.
Júlio César se torna o único governante
de Roma, no seu governo fez uma descaracterização do regime republicano de
forma que não se podia mais perceber Roma como uma república, se
constituindo como um regime autoritário. Após a sua morte formou um segundo
triunvirato composto pelos generais: Lépido, Marco Antônio e Caio Octávio,
estes permaneceram juntos enquanto foi interessante a eles, mas
como as relações entre pessoas são complexas, sobretudo quando são sedentos por poder num contexto de guerras a
assassinatos, logo começam a aparecer às disputas entre eles. A princípio
“descartam” Lépido que foi preso, ficando a disputa nas mãos de Octávio e Marco
Antônio, o primeiro tinha seus domínios a partir de Roma, enquanto o outro controlava a
parte oriental dos domínios romanos. No final das contas Octávio venceu a
guerra e detêm todo o poder, centralizando-o em suas mãos, já nos tempos do
Império Romano.
Já com o título de imperador, Octávio
que agora se chama Octávio Augusto, assume o poder em 27 a. C., com enorme
autoridade, iniciando uma série de reformas administrativas e políticas.
Schmidt (2005) aponta que, algumas instituições da República ainda permanecem e
outras acabam, como exemplo: o senado que permanece, mas com muitos conflitos
entre os senadores (homens ricos e experientes de Roma) e os imperadores,
também os cônsules, pois eram importantes no imaginário popular. A Assembleia
Popular no que lhe concerne, perde todos os seus poderes até desaparecer por
completo.
Ao imperador cabia o controle dos
exércitos, dos governos das províncias e dos funcionários públicos e se tornou
também um chefe religioso. Durante o Império Romano houve uma ampliação dos
territórios submetidos a Roma, processo de expansão territorial que iniciara
bem antes na República, os domínios agora se estendiam desde o Egito e norte da
África, Península Ibérica, as regiões da Palestina, Ásia Menor, Macedônia,
Gália, Britânia, Dácia, Trácia, Armênia, Mesopotâmia, mas para que este império
funcionasse era preciso inúmeros funcionários a serviço para a administração
das províncias, a coleta de impostos e de informações, fiscalização. (SCHMIDT,
2005).
Uma das medidas mais marcantes no
governo de Octávio Augusto está relaciona as políticas adotadas para a criação
da imagem pública de um imperador que promovia a paz em vez das guerras civis
(tão características da sociedade romana), respeitou os direitos dos
cidadãos romanos, para isto manteve os privilégios da antiga
aristocracia e dos cavaleiros (equestres), também distribuía gratuitamente
toneladas de pão para os pobres de Roma e promovia para estes grandes
espetáculos públicos em arenas e anfiteatros, criando assim a tradição política do “pão e
circo” para divertir e manter ocupados os plebeus, sobretudo em momentos de
crise. (SCHMIDT, 2005).
Augusto (um dos nomes de Octávio) governa no “período de
transição para a era cristã”, pois, Jesus nasce durante o governo de Augusto, na província romana da Judeia e é criado em Nazaré, província da Galileia.
Em 14 d. C. com a morte dele, quem assume o poder é seu genro Tibério. Durante
o governo de Tibério Jesus começa o seu ministério terreno, de acordo com a abordagem bíblica, surge na província da Judeia e da Galileia como um
grande revolucionário, quebrando os paradigmas das religiões judaicas (existiam
vários judaísmos praticados em todo o império por causa da diáspora judaica)
das religiões praticadas nas regiões, da adoração ao imperador, também se
opondo contra os paradigmas políticos, já que trazia uma mensagem de outro
reino para além dos limites do império, onde as pessoas não seriam oprimidas,
onde não haveria submissão, não havia desigualdade social, uma vida após a
morte, etc, logo esta mensagem de esperança teve aceitação primeiramente de
judeus e depois por gentios e depois por uma parcela considerável das
populações de todas as províncias, se difundindo de forma muito rápida através
dos apóstolos.
As sucessões vão acontecendo na medida em que sangrentas disputas acontecem. Durante o governo das dinastias Júlia
(Augusto) e da dinastia Cláudia (Tibério, Calígula, Cláudio, Nero) houve
inúmeros escândalos, assassinatos e conspirações, sendo que muitos deles foram
perseguições políticas e religiosas (inclusive a muitos cristãos).
O Império Romano continua a crescer até
o final do século II d. C., quando começa a sofrer as primeiras invasões de
alguns povos vindos de regiões fora dos limites romanos, conhecidos como
“bárbaros” pelos romanos por não falarem o latim e por não ter os mesmos
costumes. Os sinais da crise do império foram se tornando mais frequentes, a
população sofria com altas taxas de impostos, e há uma nova crise, a agrícola.
O imperador Diocleciano (284 – 305) numa tentativa de tentar controlar o
império, que já estava incontrolável, divide o em duas partes, não resolvendo
muito as disputas por poder continuaram até Constantino (313 – 337) que
consegue restaurar o poder central, voltando a ter apenas um governante.
Este
famoso imperador, e controverso para alguns, adotou algumas políticas que favoreceram os
cristãos que já era um grupo grande na sociedade romana e fora dos limites do
império, inclusive alguns grupos de bárbaros já tinham sido evangelizados e trazem
consigo um cristianismo “hibrido” quando o império romano cai de uma vez por
todas. Constantino se "converte" a fé cristã e em 313 d. C. publica o famoso Edito de Milão, documento que concedia liberdade de cultos e de crença no império, isso beneficiou e muito os cristãos, que até então viviam em tempos de paz e de perseguição. E somente com Teodósio que o cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano. (BRAICK; MOTA, 2016).
No governo de Teodósio em 395, é que há
de fato a divisão de Império Romano do Ocidente, que cai sob o domínio dos
bárbaros em 476 d. C, e Império Romano do Oriente que cai em 1453, com a invasão de turcos otomanos.
Roma durante a monarquia, república e império
No mapa 2, há a Península Itálica
durante a monarquia em cor rosa, depois na cor amarela os limites de Roma
durante a república e por fim em verde está o império até a sua extensão máxima
em 476 d. C. Ao se analisar a história da Península Itálica e Império Romano se
percebe o quanto a história vai se contornando e se adequando as dinâmicas de
cada período. O Cristianismo surge dentro do contexto do império onde as
regiões da Palestina foram anexadas e dominadas pelo império romano e quando o
cristianismo surge como um movimento religioso e pode-se dizer político, sai
dos limites da Palestina rumo a todas as regiões do mundo romano, pregando para os mais diversos grupos étnicos, fazendo o que
o próprio Cristo disse: "[...] e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." (Atos 1. 8b).
Jael Santos
Graduando em História pela Universidade
do Estado da Bahia - DEDC X.
Referências:
AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI,
Reinaldo. História em movimento: ensino médio. São Paulo:
Ática, 2010.
BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 4 ed. - São Paulo: Moderna, 2016,
BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 4 ed. - São Paulo: Moderna, 2016,
PETTA, Nicolina Luíza de; OJEDA,
Eduardo Aparicio Baez. Coleção base: História: uma abordagem integrada:
volume único. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1999.
SCHIMIDT, Mario Furley. Nova
História Crítica: ensino médio: volume único. 1ª ed.- São Paulo: Nova
Geração, 2005.
SCOPACASA, Rafel. Identidade
étnica na Itália antiga (séculos IV-I a.C.): fontes, problemas e possibilidades
de estudo. Tempo (Niterói, online) | Vol. 22 n. 41. p.566-584
set-dez., 2016.
Mapas:
Mapa 1: Disponível em: https://antoniocv.files.wordpress.com/2015/10/povos-da-natiga-itc3a1lia.jpg. Acesso
em: 22/05/18.
Mapa 02: Disponível em: http://disciplina-de-historia.blogspot.com.br/2011/10/expansao-do-imperio-romano.html. Acesso em: 24/05/18.
Mapa 02: Disponível em: http://disciplina-de-historia.blogspot.com.br/2011/10/expansao-do-imperio-romano.html. Acesso em: 24/05/18.
Ótimo artigo!
ResponderExcluirAmei o artigo 😍
ResponderExcluirMuito bem explicado!
Parabéns 👏
Obrigado minha leitora Fernanda!Espero ter contribuído para a formação de seu conhecimento no âmbito da História!
ExcluirÓtimo artigo!
ResponderExcluirParabéns...