quinta-feira, 24 de maio de 2018

A Península Itálica e Império Romano antes do Cristianismo.




Este artigo pretende fazer uma análise histórica e geográfica da Península Itálica e do Império Romano antes do nascimento e expansão do Cristianismo, numa tentativa de compreender em aspectos gerais como estava formada esta estrutura social, politica e religiosa. Para isso serão utilizados alguns mapas e algumas obras didáticas para facilitar o entendimento deste assunto. 

Para a introdução das discussões é preciso apontar logo de início como está estruturado o trabalho e assim lançar luz as abordagens. 

Este artigo está dividido em três partes: a primeira será feito um breve histórico da Península Itálica antes dos sistemas: monárquico, republicano, e imperial, os povos que habitavam a região e como se tornou uma monarquia. Na segunda parte trataremos sobre a Monarquia na Península Itálica, como foi governada e como ela veio a ser república. Na terceira será feita uma abordagem de aspectos gerais do período da República Romana, onde serão abordados temas como a expansão do território, as guerras por terras, a ascensão dos generais, entre outras temáticas. Por fim na quarta e última parte será feita uma abordagem do Império Romano pré-cristianismo.

Antes de seus sistemas de governos a Península Itálica era habitada por vários povos como latinos, etruscos, sabinos vizinhos mais próximos de Roma; hérnicos, équos, volscos, samnitas, lucanos que controlavam uma parte grande nas regiões centro-meridional; e os umbros e campanos também no centro; no sul havia cidades gregas como Tarento e Crotona; e a oeste da região da Sicília era dominada pelos cartagineses; ao norte haviam os vênetos, os gauleses e os lígures. Cada povo tinha uma identidade étnica e tinham as características socioculturais distintas (SCOPACASA, 2016).


As evidências históricas afirmam que Roma surge a partir da unificação de várias aldeias latinas através da ação dos etruscos no século VII a. C., deixa de ser um povoado de pastores, agricultores e comerciantes para se transformar em uma cidade fortificada e com relações comerciais estruturadas com outras regiões. Dos povos etruscos aprenderam a pavimentar estradas, drenar pântanos, construir pontes e redes de esgoto, e também vários elementos da religião etrusca na sociedade romana em processo de formação, tais como a prática da adivinhação.



Mapa 1. Povos antigos da Península Itálica

Após a unificação de Roma começa o sistema monárquico onde foi governada por sete monarcas, sendo quatro deles de origem latina e três etrusca. Em 509 a. C. durante o governo do rei etrusco Tarquínio II, os patrícios que eram os detentores de terras e de maior poder expulsaram os etruscos do Lácio, região onde Roma se localizava, e conquistaram uma grande parcela dos seus domínios, prevalecendo então à dominação latina sobre quase toda península que foi expulsando pouco a pouco os outros povos. (AZEVEDO; SERIACOPI, 2010).

O sistema monárquico romano se inicia com o fim da dinastia etrusca, não que isso tenha ocorrido muito rapidamente, foi um processo longo que foi se estruturando partir das mudanças políticas, sociais e religiosas. No período da república a aristocracia patrícia colocava no poder os líderes eleitos (magistrados: cônsul e pretor) pelo prazo de um ano e com autoridade plena sobre os assuntos civis, militares e religiosos. Os magistrados governavam em conjunto com o Senado (composto por patrícios e cidadãos da elite econômica) e com a Assembleia Popular (plebeus — os pobres). Os plebeus eram cidadãos livres que não faziam parte da elite econômica e política de Roma, mas com a política de expansão territorial que se inicia neste período esta classe se torna mais necessária, pois, eram importantes na formação de exércitos sendo que muitos destes que entravam no exército conseguiam notoriedade na participação de vitórias militares e se tornavam muitas vezes proprietários de terras. Não demorou muito para que os plebeus percebessem que os interesses patrícios eram diferentes dos deles, os patrícios por sua vez não deixavam os seus benefícios e os plebeus reivindicavam cada vez mais por espaço na política. (PETTA; OJEDA, 1999).

Roma avança cada vez mais em toda a península e as demais cidades latinas foram anexadas ao território, tendo hegemonia militar e comercial e logo que eram submetidas eram obrigadas a colocar o seu comércio a disposição dos romanos, a partir desta expansão houve um dos mais conhecidos embates entre Roma e Cartago (as Guerras Púnicas), região que hoje é o Norte da África. Neste período a cidade de Cartago era uma potência econômica dos séculos IV e III a. C., e a guerra foi, sobretudo pela disputa territorial e pelas disputas pelo comércio sendo que no final das contas depois de três guerras, Cartago saiu destruída e os romanos passam a controlar todo o Mar Mediterrâneo, a partir daí dominam toda a região norte da África, da Gália (hoje território francês), a Península Ibérica (hoje Portugal e Espanha) e as regiões da Grécia. Nas direções rumo ao oriente ocuparam as terras que foram conquistadas pelos macedônicos, que iam da Península Balcânica até o Rio Indo, na Índia. Os territórios conquistados alguns possuíam autonomia política e alguns tidos como bárbaros eram submetidos militarmente, economicamente e politicamente, e todas as regiões anexadas eram considerados províncias e tinham como regime a lei militar e todas pagavam tributos a Roma. (PETTA; OJEDA, 1999).

Com tamanha expansão e com o fortalecimento do poder dos generais, e com a ascensão de plebeus o sistema de governo republicano não estava dando mais conta das mudanças significativas que já estava formando os seus contornos e se estruturando para outro sistema de governo.

A plebe se via cada vez mais mergulhada em um sistema desigual onde os patrícios detinham grandes porcentagens de terras dadas pelo estado, Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe e os camponeses viam nele uma esperança, e logo ele começou a discursar em favor dos plebeus, por conta disso foi assassinado. O substituto de Tibério Graco foi o seu irmão Caio Graco, este conseguiu a aprovação de algumas leis, mas como representava uma ameaça assim como seu irmão foi assassinado.

Os generais nas vitórias expansionistas tomavam as riquezas dos povos e as distribuíam entre os oficiais e os soldados. Os generais se tornam ambiciosos e muito populares, pois, eram importantes para manter o controle das regiões dominadas e o estado dependia cada vez mais deles e muitos se destacam. (SCHMIDT, 2005).

A partir das lutas em guerras civis e tentativas de controle das revoltes ocorridas dentro dos limites do território romano os generais se destacam pela atuação nestes conflitos, e delas há a união dos generais Pompeu, Crasso e Júlio César, que formaram em 60 a. C. o primeiro Triunvirato que não durou muito acabando por conta das disputas entre César e Pompeu, ocasionando em uma nova guerra civil no qual Júlio César amparado por um exército bastante treinado e fiel derrota os seus adversários.

Júlio César se torna o único governante de Roma, no seu governo fez uma descaracterização do regime republicano de forma que não se podia mais perceber Roma como uma república, se constituindo como um regime autoritário. Após a sua morte formou um segundo triunvirato composto pelos generais: Lépido, Marco Antônio e Caio Octávio, estes permaneceram juntos enquanto foi interessante a eles, mas como as relações entre pessoas são complexas, sobretudo quando são sedentos por poder num contexto de guerras a assassinatos, logo começam a aparecer às disputas entre eles. A princípio “descartam” Lépido que foi preso, ficando a disputa nas mãos de Octávio e Marco Antônio, o primeiro tinha seus domínios a partir de Roma, enquanto o outro controlava a parte oriental dos domínios romanos. No final das contas Octávio venceu a guerra e detêm todo o poder, centralizando-o em suas mãos, já nos tempos do Império Romano.

Já com o título de imperador, Octávio que agora se chama Octávio Augusto, assume o poder em 27 a. C., com enorme autoridade, iniciando uma série de reformas administrativas e políticas. Schmidt (2005) aponta que, algumas instituições da República ainda permanecem e outras acabam, como exemplo: o senado que permanece, mas com muitos conflitos entre os senadores (homens ricos e experientes de Roma) e os imperadores, também os cônsules, pois eram importantes no imaginário popular. A Assembleia Popular no que lhe concerne, perde todos os seus poderes até desaparecer por completo.

Ao imperador cabia o controle dos exércitos, dos governos das províncias e dos funcionários públicos e se tornou também um chefe religioso. Durante o Império Romano houve uma ampliação dos territórios submetidos a Roma, processo de expansão territorial que iniciara bem antes na República, os domínios agora se estendiam desde o Egito e norte da África, Península Ibérica, as regiões da Palestina, Ásia Menor, Macedônia, Gália, Britânia, Dácia, Trácia, Armênia, Mesopotâmia, mas para que este império funcionasse era preciso inúmeros funcionários a serviço para a administração das províncias, a coleta de impostos e de informações, fiscalização. (SCHMIDT, 2005).

Uma das medidas mais marcantes no governo de Octávio Augusto está relaciona as políticas adotadas para a criação da imagem pública de um imperador que promovia a paz em vez das guerras civis (tão características da sociedade romana), respeitou os direitos dos cidadãos romanos, para isto manteve os privilégios da antiga aristocracia e dos cavaleiros (equestres), também distribuía gratuitamente toneladas de pão para os pobres de Roma e promovia para estes grandes espetáculos públicos em arenas e anfiteatros, criando assim a tradição política do “pão e circo” para divertir e manter ocupados os plebeus, sobretudo em momentos de crise. (SCHMIDT, 2005).

Augusto (um dos nomes de Octávio) governa no “período de transição para a era cristã”, pois, Jesus nasce durante o governo de Augusto, na província romana da Judeia e é criado em Nazaré, província da Galileia. 

Em 14 d. C. com a morte dele, quem assume o poder é seu genro Tibério. Durante o governo de Tibério Jesus começa o seu ministério terreno, de acordo com a abordagem bíblica, surge na província da Judeia e da Galileia como um grande revolucionário, quebrando os paradigmas das religiões judaicas (existiam vários judaísmos praticados em todo o império por causa da diáspora judaica) das religiões praticadas nas regiões, da adoração ao imperador, também se opondo contra os paradigmas políticos, já que trazia uma mensagem de outro reino para além dos limites do império, onde as pessoas não seriam oprimidas, onde não haveria submissão, não havia desigualdade social, uma vida após a morte, etc, logo esta mensagem de esperança teve aceitação primeiramente de judeus e depois por gentios e depois por uma parcela considerável das populações de todas as províncias, se difundindo de forma muito rápida através dos apóstolos.

As sucessões vão acontecendo na medida em que sangrentas disputas acontecem. Durante o governo das dinastias Júlia (Augusto) e da dinastia Cláudia (Tibério, Calígula, Cláudio, Nero) houve inúmeros escândalos, assassinatos e conspirações, sendo que muitos deles foram perseguições políticas e religiosas (inclusive a muitos cristãos).

O Império Romano continua a crescer até o final do século II d. C., quando começa a sofrer as primeiras invasões de alguns povos vindos de regiões fora dos limites romanos, conhecidos como “bárbaros” pelos romanos por não falarem o latim e por não ter os mesmos costumes. Os sinais da crise do império foram se tornando mais frequentes, a população sofria com altas taxas de impostos, e há uma nova crise, a agrícola. O imperador Diocleciano (284 – 305) numa tentativa de tentar controlar o império, que já estava incontrolável, divide o em duas partes, não resolvendo muito as disputas por poder continuaram até Constantino (313 – 337) que consegue restaurar o poder central, voltando a ter apenas um governante. 

Este famoso imperador, e controverso para alguns, adotou algumas políticas que favoreceram os cristãos que já era um grupo grande na sociedade romana e fora dos limites do império, inclusive  alguns grupos de bárbaros já tinham sido evangelizados e trazem consigo um cristianismo “hibrido” quando o império romano cai de uma vez por todas. Constantino se "converte" a fé cristã e em 313 d. C. publica o famoso Edito de Milão, documento que concedia liberdade de cultos e de crença no império, isso beneficiou e muito os cristãos, que até então viviam em tempos de paz e de perseguição. E somente com Teodósio que o cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano. (BRAICK; MOTA, 2016).

No governo de Teodósio em 395, é que há de fato a divisão de Império Romano do Ocidente, que cai sob o domínio dos bárbaros em 476 d. C, e Império Romano do Oriente que cai em 1453, com a invasão de turcos otomanos.


Roma durante a monarquia, república e império

No mapa 2, há a Península Itálica durante a monarquia em cor rosa, depois na cor amarela os limites de Roma durante a república e por fim em verde está o império até a sua extensão máxima em 476 d. C. Ao se analisar a história da Península Itálica e Império Romano se percebe o quanto a história vai se contornando e se adequando as dinâmicas de cada período. O Cristianismo surge dentro do contexto do império onde as regiões da Palestina foram anexadas e dominadas pelo império romano e quando o cristianismo surge como um movimento religioso e pode-se dizer político, sai dos limites da Palestina rumo a todas as regiões do mundo romano, pregando para os mais diversos grupos étnicos, fazendo o que o próprio Cristo disse: "[...] e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." (Atos 1. 8b).
Jael Santos
Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - DEDC X.

Referências:

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História em movimento: ensino médio. São Paulo: Ática, 2010.

BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 4 ed. - São Paulo: Moderna, 2016,

PETTA, Nicolina Luíza de; OJEDA, Eduardo Aparicio Baez. Coleção base: História: uma abordagem integrada: volume único. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1999.

SCHIMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica: ensino médio: volume único. 1ª ed.- São Paulo: Nova Geração, 2005. 

SCOPACASA, Rafel. Identidade étnica na Itália antiga (séculos IV-I a.C.): fontes, problemas e possibilidades de estudo. Tempo (Niterói, online) | Vol. 22 n. 41. p.566-584 set-dez., 2016.

Mapas: 

Mapa 1: Disponível em: https://antoniocv.files.wordpress.com/2015/10/povos-da-natiga-itc3a1lia.jpg. Acesso em: 22/05/18.

Mapa 02: Disponível em: http://disciplina-de-historia.blogspot.com.br/2011/10/expansao-do-imperio-romano.html. Acesso em: 24/05/18.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Início de conversa...

A Bíblia Sagrada é o livro mais importante para os cristãos de quase todas as confissões, com exceções de alguns grupos. Mas é um livro extremamente antigo, e a sua veracidade é questionada por cientistas dos mais variados campos de saber humano, em contrapartida há inúmeros cientistas que percebem na Bíblia um ótimo instrumento de investigação do passado e do presente e porque não dizer do futuro.

A partir desta linha de raciocínio este blog é uma tentativa de diálogo entre a Bíblia e a História, tendo a primeira como plano principal a partir do olhar e das metodologia historiográficas. 

As postagens serão frutos de um trabalho de reflexão historiográfica e bíblico-teológica, no qual a história e as narrativas bíblicas serão enriquecidas com o rigor cientifico da história.

També postaremos aqui, alguns outros artigos para enriquecer o nosso trabalho!

Desde já agradecemos pela visita e que vocês sejam enriquecidos e que tenham bom aproveitamento!


O blog "Biblia e História em foco"