quinta-feira, 23 de abril de 2020

Uma breve História sobre os Hebreus



A história dos Hebreus é narrada na Torá (livro sagrado do Judaísmo) e no chamado Velho Testamento, uma das partes que compõe a Bíblia (livro sagrado para os cristãos).

De acordo com essas narrativas religiosas o patriarca Abraão, teria migrado de Ur na Mesopotâmia para a Palestina, teve o seu filho Isaque, que gerou filhos gêmeos, um era Esaú, que deu origem a outro povo, e o outro foi Jacó. Dos filhos de Jacó originaram as doze tribos, que se estabeleceram nas regiões da Palestina. Mas devido a grande seca que assolava a região em 1750 a. C, eles migravam para Egito, país que desfrutava de fartura e de uma boa administração.

Nas terras egípcias, desempenhavam funções variadas que iam de cargos simples a cargos públicos importantes, até que com a mudança de dinastia começaram a ser perseguidos e escravizados. Durante o cativeiro no Egito eles mantiveram os seus costumes e a sua fé, mas precisavam de um líder para coordenar a operação de libertação, surge então Moisés, que sob dura resistência faraónica e sob a orientação de Deus, consegue a liberdade.

Figura retratando a saída dos hebreus e travessia do Mar Vermelho
A saída dos hebreus do Egito rumo a chamada Terra Prometida ficou conhecida como Êxodo, e durante este retorno Moisés recebe as Tábuas da Lei, que ordenavam a vida social, moral, ética e espiritual do povo hebreu. Através deste código, surgem as bases para o Judaísmo, a primeira religião monoteísta do mundo, que atrelado a cultura, a língua, e os costumes formavam a identidade hebraica.

Depois da morte de Moisés, o seu sucessor Josué, hábil chefe militar e estrategista, assume a liderança e os hebreus conquistaram a tão sonhada terra prometida, depois de aproximadamente quarenta anos no deserto e sucessivos conflitos. O território foi divido entre as doze tribos e lideradas por juízes que exerciam as funções de chefes militares e políticos.


Mapa com as divisões das tribos na Palestina
Esta formação durou até aproximadamente o ano 1000 a. C, quando houve a unificação de todas as tribos formando o Reino de Israel, tendo Saul como primeiro rei. Durante o reinado de Saul, houve conquistas militares, mas constantes derrotas, isto fez com que o monarca perdesse apoio, principalmente por parte do povo, e diante de uma empreitada fracassada contra os Filisteus, ele comete suicídio.

Após a morte de Saul, quem assume o trono é Davi, homem popular e fiel aos costumes hebraicos.  Durante o seu reinado ele expulsou os Filisteus da Palestina, elegeu Jerusalém como capital política e religiosa de todo o Reino de Israel, e criou as doze províncias baseadas nas tribos hebréias.

Com a morte de Davi, o seu filho Salomão assume o trono israelita, e as mudanças efetivadas pelo monarca levou o Reino de Israel a uma fase de esplendor. Ele fortaleceu o poder criando uma administração organizada e eficiente, promoveu a expansão do comércio, fez acordos com outros povos e construiu edificações, entre elas o Templo de Jerusalém ou Templo de Salomão.

Depois da morte de Salomão, o reino iniciaria uma fase de decadência que duraria milénios. Houve conflitos entre as tribos, que já divergiam em muitos aspectos, e o reino foi divido entre o Reino do Sul e o Reino do Norte.

O Reino do Norte liderado por Jeroboão foi formado a partir das dez tribos do norte e a sua capital Samaria. O Reino do Sul foi formado a partir das tribos de Benjamim e Judá, a sua capital em Jerusalém, tendo como líder Roboão, filho de Salomão. Essa divisão enfraqueceu os dois reinos e ambos foram dominados.

A divisão territorial do Reino do Sul e do Reino do Norte

Em 722 a. C o Reino de Israel foi tomado pelos assírios, e os israelitas são levados para cativeiros em seus territórios, mas com a mistura entre os diversos povos cativos, houve um assimilação cultural e os hebreus do norte perderam a sua identidade hebraica. Em 587 a. C, o Reino do Sul é dominado por Nabucodonosor, rei da Babilônia. Neste episódio o Templo de Jerusalém foi destruído e os habitantes se tornaram escravos e muitos judeus, principalmente os mais jovens e instruídos foram levados para a Babilônia num evento conhecido como o "Cativeiro da Babilônia", que duraria até 538 a. C.

Ciro I, o Grande, conquista a Mesopotâmia em 539 a. C, com isso os judeus e israelitas ficam sob o domínio persa e são autorizados a voltar para Jerusalém e gozar de liberdade, desde que pagassem os tributos, e neste retorno reconstroem o Templo de Jerusalém. Os hebreus ainda sofreriam com a dominação macedônica, por Alexandre, o Grande em 332 a. C. E em 63 a. C seriam dominados pelos romanos.

Frente a dominação romana os grupos nacionalistas hebreus resistiram ocasionando na primeira revolta contra os romanos ( entre 69 d. C a 70 d. C ) e na segunda revolta (entre 132 a 135 d. C). As consequências da resistência não foram favoráveis, pois em 135 d. C, foram expulsos de Jerusalém, e passaram a viver espalhados em pequenas comunidades, este episódio ficou conhecido como a Diáspora dos judeus.

Mesmo espalhados e perseguidos por várias partes do mundo, os judeus mantiveram a unidade cultural, na língua, religião e costumes. Somente em 1948, depois de séculos de dispersão, retornaram ao seu antigo território, com a criação do Estado de Israel, decretada pela Organização das Nações Unidas - ONU, mas iniciaram um novo conflito, agora com os palestinos que habitavam o território há séculos. Esta guerra na Palestina está longe de terminar, pois há o interesse de potências mundiais nos territórios do Oriente Médio.


Jael Ferreira
Licenciado em História pela Universidade do Estado da Bahia
Especializando em Ciência da Religião pela Faculdade Dom Alberto



REFERÊNCIAS

Imagéticas:

 Mapa da saída dos hebreus e travessia do Mar Vermelho. Disponível em: http://jesuseeuamor.blogspot.com/2011/09/mapas-biblicos.html Acesso em: 23 de março de 2020.

Mapa das divisões das tribos na Palestina. Disponível em: http://mgathe.blogspot.com/2014/07/deus-se-faz-crianca-e-nasce-em-belem-de.html Acesso em: 23 de março de 2020.

Mapa com a divisão territorial do Reino do Sul e do Reino do Norte. Disponível em: http://jesuseeuamor.blogspot.com/2011/09/mapas-biblicos.html. Acesso em: 24 de março de 2020


Bibliográficas:

AZEVEDO, Gislaine Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História em movimento: ensino médio. São Paulo, Ática, 2010.

BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myrian Becho Mota. História: das cavernas ao terceiro Milênio. 2 ed.- São Paulo: Moderna, 2010.

PETTA, Nicolina Luíza de; OJEDA, Eduardo Aparício Baez. Coleção Base: História: uma abordagem integrada. 1 ed. São Paulo: Moderna, 1999.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

DIDAQUÊ: Introdução - O Manual Mais Antigo da Igreja Cristã

Qual a razão pela qual um pequeno e muito antigo documento anônimo, de pouco mais de dez páginas tem chamado tanta atenção. A resposta é que a Didaquê preenche uma lacuna documental-histórico do período pós-apostólica (após a destruição de Jerusalém 70 d.C.) e meados do segundo século, um dos períodos mais obscuros e desconhecidos da história da Igreja. A descoberta deste pequeno documento abriu muitas possibilidades para se encontrar respostas para algumas das questões históricas desse período eclesiástico da Igreja.A Didaquê faz parte permanente em cada coleção dos Padres Apostólicos, em cada pesquisa sobre o Canon do Novo Testamento, o conteúdo do ensino, do culto primitivo e da disciplina nas comunidades cristãs espalhadas rapidamente por todo o Império Romano, bem como contribui na elaboração de comentários dos evangelhos.Os estudiosos, desde sua descoberta, têm se debruçado exaustivamente sobre a discussão sobre a sua autoria, quando e onde de sua composição, a sua relação com documentos cognatos, como por exemplo a Epístola de Barnabé, o Pastor Hermas, e o cinturão literário que se forma ao redor da literatura canônica.Desde sua descoberta e posteriores edições a Didaquê têm sido usada por praticamente todas as denominações e seitas cristãs evangélicas para apoiar essa ou aquela doutrina peculiar de cada uma delas, entretanto, o valor primário dela está em seu aspecto histórico e por este prisma o documento deve ser estudado.A Didaquê está classificada nos mesmo nível da literatura dos chamados Pais Apostólicos, contribuindo para a consolidação da Igreja Cristã. Também atesta em grau, gênero e numero a superioridade inequívoca da literatura neotestamentária em relação a todas as demais literaturas eclesiásticas posteriormente produzidas. Diante do Sermão da Montanha, ou do Evangelho Segundo João, ou a Epístola aos Gálatas, ou ainda da Epístola de Tiago do qual mais se assemelha, a relevância da Didaquê assume seu valor diminuto.Em nenhum momento a Didaquê reivindica uma autoridade apostólica; em seu silêncio reivindicatório assume ser um extrato, produzido por seu autor desconhecido, do que ele havia aprendido e agora utiliza para instruir a outros sobre o que ele cria ser fielmente o ensino dos apóstolos. É um documento pós apostólico, mas não pseudo-apostólico, podendo desta forma assumir seu lugar entre os documentos produzidos originalmente pelos chamados Pais Apostólicos como Clemente de Roma, Policarpo, Inácio, Hermas. Na verdade, a Didaquê preenche a lacuna entre o período apostólico e dos patrísticos, assim como a literatura apócrifa do Antigo Testamento ocupa o espaço do chamado período interbíblico de Malaquias a João Batista.

O Título
O termo Didaquê (Διδαχή) é derivado de Atos 2.42 onde se registra que os primeiros cristãos “perseveravam no ensino (doutrina) dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações”. É possível compreendê-la também como uma espécie de “Credo dos Apóstolos”, em seu conteúdo e não em sua forma.Em nenhum momento o autor tem pretensões apostólicas, mas apenas de alguém que registra seus ensinos. Não reivindica lugar entre os escritos inspirados, diferenciando-se de vasta literatura similar, onde o nome de um apóstolo é introduzido com o propósito de torna-la canônica. Todavia, não se encontra na Didaquê qualquer fraude literária ou ensinos espúrios.O manuscrito da Didaquê possui dois títulos: Um mais curto: "Ensino dos Doze Apóstolos" e um mais longo: "O ensino do Senhor para as Nações [gentios] através dos Doze Apóstolos." Neste título mais longo temos a identificação da fonte original “ensino do Senhor [Jesus]” e os leitores primários “as nações”, ou seja, os cristãos não judeus que deveriam ser preparados para receberem o batismo para se constituírem membros das comunidades cristãs, espalhadas pelas mais diversificadas nações incluídas nos domínios do Império Romano. Nessa especificação é possível identificar um diferencial entre a inclusão de gentios e judeus na comunidade cristã, em relação ao batismo, mas não em relação as demais atribuições eclesiásticas, como poderemos perceber ao abordarmos seu conteúdo.

Conteúdo e Propósito
A Didaquê se constitui em Manual Eclesiástico abarcando a síntese do ensino Apostólico, diretrizes em relação ao culto e à disciplina, como compreendida pelo autor e certamente exercitada na comunidade da qual ele participava. É claramente destinada aos professores e às lideranças eclesiásticas responsáveis pelas comunidades cristãs. Quanto a esses objetivos serve plenamente: é ao mesmo tempo didático e prático, e apesar de ser sucinto é também abrangente, e está convenientemente organizado em quatro partes.Por se constituir no manual mais antigo desse tipo, a Didaquê com toda certeza foi ao longo dos anos sofrendo diversas modificações, e, evoluindo para manuais mais completos. Ela está dividida em quatro partes que abrangem a totalidade da vida cristã:I. A parte doutrinal e catequética, estabelecendo o dever de todo o cristão. Caps. I-VIII. A parte litúrgica e devocional, dando indicações para o culto cristão. Caps. VII-X e XIV.III. A parte eclesiástica e disciplinar, exercida pela liderança constituída da Igreja. Caps. XI-XIII e XV.IV. A parte escatológica ou esperança do cristão Caps. XVI.



Utilização livre desde que citando a fonte
Guedes, Ivan Pereira Mestre em Ciências da Religião.
Universidade Presbiteriana Mackenzie
me.ivanguedes@gmail.com
Outro Blog
Reflexão Bíblica
http://reflexaoipg.blogspot.com.br/
Texto retirado de: http://historiologiaprotestante.blogspot.com/2016/09/didaque-introducao-o-manual-mais-antigo.html acessso em: 07/06/18

O Credo de Atanásio*

ORIGEM
O Credo de Atanásio, subscrito pelos três principais ramos da Igreja Cristã, é geralmente atribuído a Atanásio, Bispo de Alexandria (século IV), mas estudiosos do assunto conferem a ele data posterior (século V).  Sua forma final teria sido alcançada apenas no século VIII. O texto grego mais antigo deste credo provém de um sermão de Cesário, no início do século VI.
O credo de Atanasio, com quarenta artigos, é um tanto longo para um credo, mas é considerado “um majestoso e único monumento da fé imutável de toda a igreja quanto aos grandes mistérios da divindade, da Trindade de pessoas em um só Deus e da dualidade de naturezas de um único Cristo.” [1]
TEXTO
1. Todo aquele que quiser ser salvo, é necessário acima de tudo, que sustente a fé universal. [2] 
2. A qual, a menos que cada um preserve perfeita e inviolável, certamente perecerá para sempre. 
3. Mas a fé universal é esta, que adoremos um único Deus em Trindade, e a Trindade em unidade.
4. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância. 
5. Porque a pessoa do Pai é uma, a do Filho é outra, e a do Espírito Santo outra. 
6. Mas no Pai, no Filho e no Espírito Santo há uma mesma divindade, igual em glória e co-eterna majestade. 
7. O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo. 
8. O Pai é não criado, o Filho é não criado, o Espírito Santo é não criado
9. O Pai é ilimitado, o Filho é ilimitado, o Espírito Santo é ilimitado. 
10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. 
11. Contudo, não há três eternos, mas um eterno. 
12. Portanto não há três (seres) não criados, nem três ilimitados, mas um não criado e um ilimitado. 
13. Do mesmo modo, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. 
14. Contudo, não há três onipotentes, mas um só onipotente. 15. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. 
16. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus. 
17. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor.
18. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor. 
19. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores. 
20. O Pai não foi feito de ninguém, nem criado, nem gerado. 
21. O Filho procede do Pai somente, nem feito, nem criado, mas gerado. 
22. O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não feito, nem criado, nem gerado, mas procedente. 
23. Portanto, há um só Pai, não três Pais, um Filho, não três Filhos, um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. 
24. E nessa Trindade nenhum é primeiro ou último, nenhum é maior ou menor. 
25. Mas todas as três pessoas co-eternas são co-iguais entre si; de modo que em tudo o que foi dito acima, tanto a unidade em trindade, como a trindade em unidade deve ser cultuada. 
26. Logo, todo aquele que quiser ser salvo deve pensar desse modo com relação à Trindade. 
27. Mas também é necessário para a salvação eterna, que se creia fielmente na encarnação do nosso Senhor Jesus Cristo. 
28. É, portanto, fé verdadeira, que creiamos e confessemos que nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é tanto Deus como homem. 
29. Ele é Deus eternamente gerado da substância do Pai; homem nascido no tempo da substância da sua mãe. 
30. Perfeito Deus, perfeito homem, subsistindo de uma alma racional e carne humana. 
31. Igual ao Pai com relação à sua divindade, menor do que o Pai com relação à sua humanidade. 
32. O qual, embora seja Deus e homem, não é dois mas um só Cristo. 
33. Mas um, não pela conversão da sua divindade em carne, mas por sua divindade haver assumido sua humanidade. 
34. Um, não, de modo algum, pela confusão de substância, mas pela unidade de pessoa. 
35. Pois assim como uma alma racional e carne constituem um só homem, assim Deus e homem constituem um só Cristo. 
36. O qual sofreu por nossa salvação, desceu ao Hades, ressuscitou dos mortos ao terceiro dia. 
37. Ascendeu ao céu, sentou à direita de Deus Pai onipotente, de onde virá para julgar os vivos e os mortos. 
38. Em cuja vinda, todo homem ressuscitará com seus corpos, e prestarão conta de sua obras. 
39. E aqueles que houverem feito o bem irão para a vida eterna; aqueles que houverem feito o mal, para o fogo eterno. 
40. Esta é a fé Universal, a qual a não ser que um homem creia firmemente nela, não pode ser salvo. [3]

NOTAS
Extraído de Paulo Anglada, Sola Scriptura : A Doutrina Reformada das Escrituras (São Paulo: Os Puritanos, 1998), 180-82.
[1] A. A. Hodge, The Confession of Faith ( Edinburgh & Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1992 ), 7.
[2] O termo universal traduz a palavra católica , a qual também poderia ser traduzida por geral .
[3] Traduzido a partir do inglês de A. A. Hodge, Outlines of Theology ( Edinburgh, & Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1991), 117-118.

Texto retirado de: http://www.monergismo.com/textos/credos/credoatanasio.htm acesso em: 06/06/18

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A Península Itálica e Império Romano antes do Cristianismo.




Este artigo pretende fazer uma análise histórica e geográfica da Península Itálica e do Império Romano antes do nascimento e expansão do Cristianismo, numa tentativa de compreender em aspectos gerais como estava formada esta estrutura social, politica e religiosa. Para isso serão utilizados alguns mapas e algumas obras didáticas para facilitar o entendimento deste assunto. 

Para a introdução das discussões é preciso apontar logo de início como está estruturado o trabalho e assim lançar luz as abordagens. 

Este artigo está dividido em três partes: a primeira será feito um breve histórico da Península Itálica antes dos sistemas: monárquico, republicano, e imperial, os povos que habitavam a região e como se tornou uma monarquia. Na segunda parte trataremos sobre a Monarquia na Península Itálica, como foi governada e como ela veio a ser república. Na terceira será feita uma abordagem de aspectos gerais do período da República Romana, onde serão abordados temas como a expansão do território, as guerras por terras, a ascensão dos generais, entre outras temáticas. Por fim na quarta e última parte será feita uma abordagem do Império Romano pré-cristianismo.

Antes de seus sistemas de governos a Península Itálica era habitada por vários povos como latinos, etruscos, sabinos vizinhos mais próximos de Roma; hérnicos, équos, volscos, samnitas, lucanos que controlavam uma parte grande nas regiões centro-meridional; e os umbros e campanos também no centro; no sul havia cidades gregas como Tarento e Crotona; e a oeste da região da Sicília era dominada pelos cartagineses; ao norte haviam os vênetos, os gauleses e os lígures. Cada povo tinha uma identidade étnica e tinham as características socioculturais distintas (SCOPACASA, 2016).


As evidências históricas afirmam que Roma surge a partir da unificação de várias aldeias latinas através da ação dos etruscos no século VII a. C., deixa de ser um povoado de pastores, agricultores e comerciantes para se transformar em uma cidade fortificada e com relações comerciais estruturadas com outras regiões. Dos povos etruscos aprenderam a pavimentar estradas, drenar pântanos, construir pontes e redes de esgoto, e também vários elementos da religião etrusca na sociedade romana em processo de formação, tais como a prática da adivinhação.



Mapa 1. Povos antigos da Península Itálica

Após a unificação de Roma começa o sistema monárquico onde foi governada por sete monarcas, sendo quatro deles de origem latina e três etrusca. Em 509 a. C. durante o governo do rei etrusco Tarquínio II, os patrícios que eram os detentores de terras e de maior poder expulsaram os etruscos do Lácio, região onde Roma se localizava, e conquistaram uma grande parcela dos seus domínios, prevalecendo então à dominação latina sobre quase toda península que foi expulsando pouco a pouco os outros povos. (AZEVEDO; SERIACOPI, 2010).

O sistema monárquico romano se inicia com o fim da dinastia etrusca, não que isso tenha ocorrido muito rapidamente, foi um processo longo que foi se estruturando partir das mudanças políticas, sociais e religiosas. No período da república a aristocracia patrícia colocava no poder os líderes eleitos (magistrados: cônsul e pretor) pelo prazo de um ano e com autoridade plena sobre os assuntos civis, militares e religiosos. Os magistrados governavam em conjunto com o Senado (composto por patrícios e cidadãos da elite econômica) e com a Assembleia Popular (plebeus — os pobres). Os plebeus eram cidadãos livres que não faziam parte da elite econômica e política de Roma, mas com a política de expansão territorial que se inicia neste período esta classe se torna mais necessária, pois, eram importantes na formação de exércitos sendo que muitos destes que entravam no exército conseguiam notoriedade na participação de vitórias militares e se tornavam muitas vezes proprietários de terras. Não demorou muito para que os plebeus percebessem que os interesses patrícios eram diferentes dos deles, os patrícios por sua vez não deixavam os seus benefícios e os plebeus reivindicavam cada vez mais por espaço na política. (PETTA; OJEDA, 1999).

Roma avança cada vez mais em toda a península e as demais cidades latinas foram anexadas ao território, tendo hegemonia militar e comercial e logo que eram submetidas eram obrigadas a colocar o seu comércio a disposição dos romanos, a partir desta expansão houve um dos mais conhecidos embates entre Roma e Cartago (as Guerras Púnicas), região que hoje é o Norte da África. Neste período a cidade de Cartago era uma potência econômica dos séculos IV e III a. C., e a guerra foi, sobretudo pela disputa territorial e pelas disputas pelo comércio sendo que no final das contas depois de três guerras, Cartago saiu destruída e os romanos passam a controlar todo o Mar Mediterrâneo, a partir daí dominam toda a região norte da África, da Gália (hoje território francês), a Península Ibérica (hoje Portugal e Espanha) e as regiões da Grécia. Nas direções rumo ao oriente ocuparam as terras que foram conquistadas pelos macedônicos, que iam da Península Balcânica até o Rio Indo, na Índia. Os territórios conquistados alguns possuíam autonomia política e alguns tidos como bárbaros eram submetidos militarmente, economicamente e politicamente, e todas as regiões anexadas eram considerados províncias e tinham como regime a lei militar e todas pagavam tributos a Roma. (PETTA; OJEDA, 1999).

Com tamanha expansão e com o fortalecimento do poder dos generais, e com a ascensão de plebeus o sistema de governo republicano não estava dando mais conta das mudanças significativas que já estava formando os seus contornos e se estruturando para outro sistema de governo.

A plebe se via cada vez mais mergulhada em um sistema desigual onde os patrícios detinham grandes porcentagens de terras dadas pelo estado, Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe e os camponeses viam nele uma esperança, e logo ele começou a discursar em favor dos plebeus, por conta disso foi assassinado. O substituto de Tibério Graco foi o seu irmão Caio Graco, este conseguiu a aprovação de algumas leis, mas como representava uma ameaça assim como seu irmão foi assassinado.

Os generais nas vitórias expansionistas tomavam as riquezas dos povos e as distribuíam entre os oficiais e os soldados. Os generais se tornam ambiciosos e muito populares, pois, eram importantes para manter o controle das regiões dominadas e o estado dependia cada vez mais deles e muitos se destacam. (SCHMIDT, 2005).

A partir das lutas em guerras civis e tentativas de controle das revoltes ocorridas dentro dos limites do território romano os generais se destacam pela atuação nestes conflitos, e delas há a união dos generais Pompeu, Crasso e Júlio César, que formaram em 60 a. C. o primeiro Triunvirato que não durou muito acabando por conta das disputas entre César e Pompeu, ocasionando em uma nova guerra civil no qual Júlio César amparado por um exército bastante treinado e fiel derrota os seus adversários.

Júlio César se torna o único governante de Roma, no seu governo fez uma descaracterização do regime republicano de forma que não se podia mais perceber Roma como uma república, se constituindo como um regime autoritário. Após a sua morte formou um segundo triunvirato composto pelos generais: Lépido, Marco Antônio e Caio Octávio, estes permaneceram juntos enquanto foi interessante a eles, mas como as relações entre pessoas são complexas, sobretudo quando são sedentos por poder num contexto de guerras a assassinatos, logo começam a aparecer às disputas entre eles. A princípio “descartam” Lépido que foi preso, ficando a disputa nas mãos de Octávio e Marco Antônio, o primeiro tinha seus domínios a partir de Roma, enquanto o outro controlava a parte oriental dos domínios romanos. No final das contas Octávio venceu a guerra e detêm todo o poder, centralizando-o em suas mãos, já nos tempos do Império Romano.

Já com o título de imperador, Octávio que agora se chama Octávio Augusto, assume o poder em 27 a. C., com enorme autoridade, iniciando uma série de reformas administrativas e políticas. Schmidt (2005) aponta que, algumas instituições da República ainda permanecem e outras acabam, como exemplo: o senado que permanece, mas com muitos conflitos entre os senadores (homens ricos e experientes de Roma) e os imperadores, também os cônsules, pois eram importantes no imaginário popular. A Assembleia Popular no que lhe concerne, perde todos os seus poderes até desaparecer por completo.

Ao imperador cabia o controle dos exércitos, dos governos das províncias e dos funcionários públicos e se tornou também um chefe religioso. Durante o Império Romano houve uma ampliação dos territórios submetidos a Roma, processo de expansão territorial que iniciara bem antes na República, os domínios agora se estendiam desde o Egito e norte da África, Península Ibérica, as regiões da Palestina, Ásia Menor, Macedônia, Gália, Britânia, Dácia, Trácia, Armênia, Mesopotâmia, mas para que este império funcionasse era preciso inúmeros funcionários a serviço para a administração das províncias, a coleta de impostos e de informações, fiscalização. (SCHMIDT, 2005).

Uma das medidas mais marcantes no governo de Octávio Augusto está relaciona as políticas adotadas para a criação da imagem pública de um imperador que promovia a paz em vez das guerras civis (tão características da sociedade romana), respeitou os direitos dos cidadãos romanos, para isto manteve os privilégios da antiga aristocracia e dos cavaleiros (equestres), também distribuía gratuitamente toneladas de pão para os pobres de Roma e promovia para estes grandes espetáculos públicos em arenas e anfiteatros, criando assim a tradição política do “pão e circo” para divertir e manter ocupados os plebeus, sobretudo em momentos de crise. (SCHMIDT, 2005).

Augusto (um dos nomes de Octávio) governa no “período de transição para a era cristã”, pois, Jesus nasce durante o governo de Augusto, na província romana da Judeia e é criado em Nazaré, província da Galileia. 

Em 14 d. C. com a morte dele, quem assume o poder é seu genro Tibério. Durante o governo de Tibério Jesus começa o seu ministério terreno, de acordo com a abordagem bíblica, surge na província da Judeia e da Galileia como um grande revolucionário, quebrando os paradigmas das religiões judaicas (existiam vários judaísmos praticados em todo o império por causa da diáspora judaica) das religiões praticadas nas regiões, da adoração ao imperador, também se opondo contra os paradigmas políticos, já que trazia uma mensagem de outro reino para além dos limites do império, onde as pessoas não seriam oprimidas, onde não haveria submissão, não havia desigualdade social, uma vida após a morte, etc, logo esta mensagem de esperança teve aceitação primeiramente de judeus e depois por gentios e depois por uma parcela considerável das populações de todas as províncias, se difundindo de forma muito rápida através dos apóstolos.

As sucessões vão acontecendo na medida em que sangrentas disputas acontecem. Durante o governo das dinastias Júlia (Augusto) e da dinastia Cláudia (Tibério, Calígula, Cláudio, Nero) houve inúmeros escândalos, assassinatos e conspirações, sendo que muitos deles foram perseguições políticas e religiosas (inclusive a muitos cristãos).

O Império Romano continua a crescer até o final do século II d. C., quando começa a sofrer as primeiras invasões de alguns povos vindos de regiões fora dos limites romanos, conhecidos como “bárbaros” pelos romanos por não falarem o latim e por não ter os mesmos costumes. Os sinais da crise do império foram se tornando mais frequentes, a população sofria com altas taxas de impostos, e há uma nova crise, a agrícola. O imperador Diocleciano (284 – 305) numa tentativa de tentar controlar o império, que já estava incontrolável, divide o em duas partes, não resolvendo muito as disputas por poder continuaram até Constantino (313 – 337) que consegue restaurar o poder central, voltando a ter apenas um governante. 

Este famoso imperador, e controverso para alguns, adotou algumas políticas que favoreceram os cristãos que já era um grupo grande na sociedade romana e fora dos limites do império, inclusive  alguns grupos de bárbaros já tinham sido evangelizados e trazem consigo um cristianismo “hibrido” quando o império romano cai de uma vez por todas. Constantino se "converte" a fé cristã e em 313 d. C. publica o famoso Edito de Milão, documento que concedia liberdade de cultos e de crença no império, isso beneficiou e muito os cristãos, que até então viviam em tempos de paz e de perseguição. E somente com Teodósio que o cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano. (BRAICK; MOTA, 2016).

No governo de Teodósio em 395, é que há de fato a divisão de Império Romano do Ocidente, que cai sob o domínio dos bárbaros em 476 d. C, e Império Romano do Oriente que cai em 1453, com a invasão de turcos otomanos.


Roma durante a monarquia, república e império

No mapa 2, há a Península Itálica durante a monarquia em cor rosa, depois na cor amarela os limites de Roma durante a república e por fim em verde está o império até a sua extensão máxima em 476 d. C. Ao se analisar a história da Península Itálica e Império Romano se percebe o quanto a história vai se contornando e se adequando as dinâmicas de cada período. O Cristianismo surge dentro do contexto do império onde as regiões da Palestina foram anexadas e dominadas pelo império romano e quando o cristianismo surge como um movimento religioso e pode-se dizer político, sai dos limites da Palestina rumo a todas as regiões do mundo romano, pregando para os mais diversos grupos étnicos, fazendo o que o próprio Cristo disse: "[...] e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." (Atos 1. 8b).
Jael Santos
Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia - DEDC X.

Referências:

AZEVEDO, Gislane Campos; SERIACOPI, Reinaldo. História em movimento: ensino médio. São Paulo: Ática, 2010.

BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 4 ed. - São Paulo: Moderna, 2016,

PETTA, Nicolina Luíza de; OJEDA, Eduardo Aparicio Baez. Coleção base: História: uma abordagem integrada: volume único. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1999.

SCHIMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica: ensino médio: volume único. 1ª ed.- São Paulo: Nova Geração, 2005. 

SCOPACASA, Rafel. Identidade étnica na Itália antiga (séculos IV-I a.C.): fontes, problemas e possibilidades de estudo. Tempo (Niterói, online) | Vol. 22 n. 41. p.566-584 set-dez., 2016.

Mapas: 

Mapa 1: Disponível em: https://antoniocv.files.wordpress.com/2015/10/povos-da-natiga-itc3a1lia.jpg. Acesso em: 22/05/18.

Mapa 02: Disponível em: http://disciplina-de-historia.blogspot.com.br/2011/10/expansao-do-imperio-romano.html. Acesso em: 24/05/18.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Início de conversa...

A Bíblia Sagrada é o livro mais importante para os cristãos de quase todas as confissões, com exceções de alguns grupos. Mas é um livro extremamente antigo, e a sua veracidade é questionada por cientistas dos mais variados campos de saber humano, em contrapartida há inúmeros cientistas que percebem na Bíblia um ótimo instrumento de investigação do passado e do presente e porque não dizer do futuro.

A partir desta linha de raciocínio este blog é uma tentativa de diálogo entre a Bíblia e a História, tendo a primeira como plano principal a partir do olhar e das metodologia historiográficas. 

As postagens serão frutos de um trabalho de reflexão historiográfica e bíblico-teológica, no qual a história e as narrativas bíblicas serão enriquecidas com o rigor cientifico da história.

També postaremos aqui, alguns outros artigos para enriquecer o nosso trabalho!

Desde já agradecemos pela visita e que vocês sejam enriquecidos e que tenham bom aproveitamento!


O blog "Biblia e História em foco"